14 setembro 2011

em Bagé



Em Bagé os cavalos seguem pastando, o pasto segue congelando de manhã e o sol sempre vem.

14 fevereiro 2008

Crônicas de uma primavera invernal



De que adianta vender a beleza plástica das cidades se a beleza suja, a beleza do que as cidades têm de mais urbana, beleza que se desdobra por suas curvas, sempre acaba se mostrando mais sedutora?

Me pergunto que tal nostalgia inquietante é essa que me toma nesta tarde de primavera regada a frio e chuva...
Mas parece que caminhar despretensiosamente por tuas avenidas maternas, de vez em quando, faz bem.

Atravessar seus corações que não se cruzam com a calma de uma criança não tem preço.
Suas veias pulsam apressadas, tentando fazê-la fugir e seguir o caminho de um sol que hoje não se abriu. Mas eu me nego a obedecê-la e insisto e a seduzo e a convenço de que mereço vê-la nua.

Sinto-me quase que flutuando sobre ti, como dentro de um filme, de um sonho, e assim te uso para abusar de casa rosto teu, de cada pulsação, e exploro tudo que tu, ó cidade, tem por trás de teus véus.

Tu também me amedronta, mas que seria de nosso amor se não mantivesse teus segredos por trás desta maquiagem borrada?

Quero te ver assim, suja, urbana e, sob tuas estrelas, desvendar tuas vielas, ruelas, teus morros, possuir a ti que sempre será minha casa.

08 julho 2007

expansão portuária


expansão portuária
Originally uploaded by _titi
esta é a área da Barra Vieira, popular "Barra Nova", que está inclusa no projeto de expansão do porto do Rio Grande. o projeto prevê a remoção das pessoas que moram aí, para uma outra área designada pela prefeitura. a pergunta que fica para reflexão: como pescadores irão sobreviver longe da água, já que toda a orla pertence ao porto? especificamente a área da Barra Nova servirá para um terminal de celulose.. enquanto uns limpam a bunda com papel, outros morrem de fome..

e um detalhe muito interessante no Google Earth, é que em Rio Grande, as únicas áreas que estão sem nitidez, são as áreas onde os moradores serão removidos! e viva o sigilo de informações! e viva a ignorância! estranho um pouco, a área nítida começa exatamente onde termina a Barra Nova e começa a Vila da Barra (exatamente de onde tirei a foto).. então, se alguém algum dia já tentou ver a Barra Nova pelo Google Earth e não conseguiu, delicie-se, pois talvez esta imagem seja rara e em poucos meses será completamente transformada em uma grande fábrica!

e zaz! o mais legal de tudo, é que eu subi num farol! /o/ pela primeira vez na minha vida... acho isso tão mágico!

fim.

18 fevereiro 2007

são paulo

são paulo tem céu cinza, te faz beber mais água que em qualquer lugar do país, ônibus de quatro portas, a pat, o rob, o alex, a quadraphonic e os ctrl.
em são paulo as pessoas pegam 3 ônibus pra chegar e sair dos lugares e acham isso normal.

em são paulo você vê a maior concentração de shoppings por metro quadrado, cruzamentos bizarros e passagens de ônibus a dois reais e trinta.
em são paulo faz friozinho no meio da madrugada e os paulistas morrem de calor.
em são paulo os cariocas são bem recebidos com pizza, casa, tio paulo, tia neide, brunilda, david, strogonofe e história do metal.
chegar à rodoviária de são paulo pela primeira vez te dá uma sensação quase que cinematográfica de se imaginar com os pés sobre aquele chão. chão daquela são paulo da tv, grande e confusa, que ainda recebe diariamente um sem número de pessoas de todos os cantos em busca de algo que nem eles sabem nomear. mas são paulo ainda tem alguma coisa pra essa gente.
ah, se tem... pergunte ao pássaro.

01 fevereiro 2007

gurias


lena 163
Originally uploaded by _titi.
Bom, fomos eu, bia, mah, young, lena, frederik e kasper ver o pordo em são josé do norte. Foi muito legal, eles adoraram a cidade, e essas gurias adoraram eles.

18 janeiro 2007

bebé se maquiando


bebé se maquiando
Originally uploaded by _titi.
assistam ao teatro do bebé
ele não vai estar aí a vida toda, e o dia que se for, não chorem de arrependimento
vai lá! avenida atlântica esquina júlio de castilhos (cassino)

09 janeiro 2007

invernada


invernada
Originally uploaded by corbata1982.
estância invernada
pedras altas - rs
jan/07
post by corbata1982 ( convidado especial :D )
http://www.flickr.com/photos/corbata1982

04 janeiro 2007

obras paradas na 734


obras paradas na 734
Originally uploaded by _titi.
desperdício do dinheiro público
e o turismo? e a infraestrutura? muito lindo o encarte que a prefeitura colocou no jornal agora de hoje mostrando todas as coisas belas que fez pelo município. sim, todas belas, porém inúteis, em uma cidade onde não há hospitais e o transporte coletivo é extremamente precário, além de sofrer dois reajustes em menos de um ano. esta obra não é municipal, mas do mesmo partido do prefeito, então, é burrice e corrupção em dobro porque a culpa não é só de um

02 janeiro 2007

zê três


hehehe
Originally uploaded by buenasaires.
daí no outro dia o titi veio para pelotas. essa foi outra indiada. fomos até o laranjal de ônibus com a intenção de pegar o carro da minha mãe e ir até o ecocamping, na praia do barro duro (balneário dos prazeres? totó?), e fazer a trilha da figueira "bela". chegando no laranjas, a minha irmã carol tinha saído no carro. depois de desencontros com o ônibus para o barro duro, fomos caminhando até o segundo trevo do laranjal e... conseguimos uma carona! e olha que eu não acredito no espírito caroneiro do pelotense! acabamos o dia lá na z3, tomando café na casa da tia luci.

postado por renatita

29 dezembro 2006

pordo no norte


pordo no norte
Originally uploaded by _titi.

paris hotel


paris hotel
Originally uploaded by _titi.

paris hotel


paris hotel
Originally uploaded by _titi.

25 novembro 2006

Mente Sem Limite - O Grito dos Excluídos

07 outubro 2006

mano changes

Saiu na ZH de hoje 06/10/2006.. na matéria "O Mano e a Mina"



Mas antes de ler a matéria é interessante ler algo sobre o Mano Changes
"diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és",
A íntegra encontra-se em http://boanoiteproporco.blogspot.com/2006/10/ecce-homo_04.html

Mano Changes, deputado estadual eleito pelo PP com 42 mil votos, vem nos braços de Homero nos trazendo a poesia em sua forma mais pura. É brilhante sua análise das relações internacionais entre Brasil e Colômbia, em "Amazônia X Colômbia": "Ah! eu só vim prá buscar um carregamento e depois me mandar/Ah! como é boa a fronteira Amazônia e Colômbia que eu vou atravessar!!", e não menos notável sua análise das relações sociais estabelecidas entre adolescentes em "Ah, Eu tô sem erva!", o que pode inspirar políticas sociais para tal setor: "A seca tá braba não consigo uma bagana/A gatinha me disse que só sai comigo/Se eu tiver um baseado pra botar pro seu primo/O cara é cabeça, a mina também/Descolando uma erva eu vou me dar bem/Chapando o cara vai ficar liberado/Vou matar a princesa num lugar embanderado". O que dizer, então, de sua sensibilidade social para com as lutas por inclusão social dos negros e de grupos estigmatizados, como podemos comprovar em "Marrequinha": "Pobre negrinha arrideira Sentadinha no cupim/Pobre negrinha arrideira Sentadinha no cupim/ Come bosta de ovelha Pensando que é amendoim" e "Marrequinha da lagoa Bate as asa e não afunda/Marrequinha da lagoa Bate as asa e não afunda/Eu gosto de mulher gorda Porque tem graxa na bunda"?.
Suas melhores idéias, porém, florescem não de sua poesia social, brevemente ilustrada acima, mas sim quando seu talento se encontra com a arte pela arte, tal como quando nos transmite toda sua verve em "Arrastão do Amor" através de profundos versos sobre as relações conjugais ("se a sua cabeça não passa pela porta/troque sua mulher que ninguém se importa"), a feminilidade ("olha alí que coisinha que é aquela menininha/se não é virgem de umbigo deve ser da orelinha") e o amor em todo seu esplendor ("vem, meu amor/ vê se não olha pra ninguém/porque agora eu quero só fazer neném/meu amor, como você não tem igual/vem pra cá e senta aqui bem no meu...").
Mano Changes, risco para o qual já nos alertava o Nuestro Vino
ainda em agosto último, vem nos representar já qualificado por sua poesia, mas não é só isso. Também vem credenciado pelo fato de ter tirado a vaga na Assembléia Legislativa de um deputado do porte de Jair Soares, ex-governador de Estado e experiente homem público. Perdem o PP e a política gaúcha, embora nossa música agora respire mais aliviada.

(No retrato, Mano Changes, vocalista da banda Comunidade Nin-Jitsu, deputado estadual eleito pelo PP. Notem que o rapaz está tentando comunicar algo com suas mãos)





















Matéria da ZH 06/10/2006


Foto(s): Jefferson Bernardes, divulgação/ZH

O Mano e a mina

Sua Excelência o deputado eleito Mano Changes, 30 anos, ainda não sabe como vai conciliar as gírias que usa no dia-a-dia com a linguagem formal do plenário, mas por enquanto nem pensa em mudar.

Ao contrário, Mano levará para a campanha de Yeda Crusius o estilo que conquistou o voto dos jovens na campanha para a Assembléia.

No encontro que teve ontem com a candidata, Mano chamou Yeda de "mina" e os dois posaram para fotos fazendo um gesto clássico do hip-hop.

O líder da banda Comunidade Nin-Jitsu deverá ser na campanha de Yeda uma espécie de contraponto à presença da campeã de votos Manuela D'Ávila ao lado de Olívio Dutra.

Mano vai gravar o jingle de Yeda em ritmo de hip-hop e participar da propaganda da candidata na TV.

06 outubro 2006

dona coruja

Fim de Tarde na Praça Saraiva #06

Hoje a tarde tive o prazer de passar alguns momentos tão próximo quanto é possível se estar de uma coruja que não foi criada em cativeiro. Encontrei ela na Praça Saraiva, estava inicialmente sobre um poste, junto ao Seu Coruja. Ambos estavam extremamente estressados pois algumas crianças estavam curiosas quanto ao ninho que eles haviam feito próximo à pista de corrida.
Falei com as crianças, que fingiram não me ouvir mas foram embora e me sentei junto com a Fatima a alguns metros do ninho. Fiquei ali esperando, tinha certeza de que a Dona Coruja iria voltar para o ninho tão logo ela achasse seguro.
Demorou alguns minutos, mas ela voltou. O Seu Coruja sai voando, aparentemente para caçar: já era fim de tarde.
Devagar, começei a engatinhar e a me arrastar pelo chão, tentando me aproximar do ninho e da coruja sem assustá-la. Ela me olhava e eu parava. Passei por alguns espinhos e pedrinhas incomodas no caminho, nada demais.
Ao chegar a uma distância que julgei ser aceitável tanto para mim quanto para a Dona Coruja, puxei a máquina e começei a fotografar. As limitações técnicas da minha máquina não estavam permitindo que eu fizesse fotos que capturassem a beleza de tal pássaro. Vi que seria necessário chegar mais perto.
Devagar, fui me aproximando mais. A cada movimento a coruja virava apenas a cabeça e me fitava com aqueles olhões de ave de rapina. Eu vi o macho atacar um cachorro, sabia que ela seria capaz de fazer o mesmo comigo e embora não estivesse com medo, eu não queria estressar a ave.
Cheguei perto o suficiente para fazer as fotos que queria. Depois me levantei, com confiança e voltei para onde estava sentado anteriormente. Ela apenas me olhou e nem se mexeu.
Na hora de ir embora, resolvi fazer como algumas crianças fizeram e dar tchau para a "Dona Coruja". Mas resolvi fazer isso bem de perto.
Me aproximei dela, puxando ao limite a marca que havia imposto para mim mesmo como sendo segura e dei meu tchau pra ela, batendo mais uma foto. A coruja me alertava de quando eu estava ficando incômodo, olhando para mim e abrindo a boca. Sutileza... Impressionante para um animal selvagem.
E fica ai minha maior surpresa nesse breve contato: eu esperava que uma ave de rapina como a coruja fosse bem mais desconfiada e agressiva, ainda mais estando empoleirada sobre o ninho. Acho que ela entendeu minhas intenções. Acho que ela sentiu que havia respeito. Ou talvez seja só piração da cabeça de alguém que com freqüência não vê tais atitudes na lida com outros humanos.

03 setembro 2006

joquim

Tá lá!
E é só o começo!

www.flickr.com/photos/joquim

22 agosto 2006

onde o arroio...

21 agosto 2006

inimigo invisível

O inimigo invisível chegou hoje em nosso território com seu exército bem numeroso, bem armado. O inimigo invisível congela, paralisa, faz tremer, enrigece, racha o lábio, seca a mão. Essa noite o frio em meu peito é quase nada em comparação com a dor de quem improvisa um lar efêmero, de quem dorme no chão e tem seus doados pedaços de pão espalhados na curva do meio fio, na esquina fria. Venta gelado e calado o inimigo do homem de coração quente. Mostra, covarde, o corpo e o rosto de teus soldados! Tu não tens corpo nem rosto. Tu não tens ponto fraco. Tu não existes! Por que insistes em nos matar? É isso o que queres? Se não é, o que queres? Se não é isso, queres outra coisa e matas sem querer. Faça fogo quem o teme. Una-se a outros que o temem. Juntos, escondam-se ao redor de uma fogueira. Bebam cachaça e entorpeçam-se pois ele não existe: nem o frio de fora, nem o frio daqui.

12 agosto 2006

quitéria, de novo

Não posso deixar de registrar o dia de ontem (quinta-feira, 10 de agosto de 2006)


Acontece que contávamos com a sorte, eu e Cláudio (Zohguy), pois queríamos subir no telhado do edifício da Câmara do Comércio para fotografar a cidade e as ilhas, por cima, uma visão, digamos, superior!? Até que ponto? Desde o momento que ele me telefonou, perto do meio-dia, me batia na cabeça essa questão: estou enjoando dos prédios, tanto dos vivos quanto dos mortos, que tanto fotografei no último ano. Eu não sei explicar muito bem, as pessoas, entram no ônibus tristes, cansadas, com a pele cinza. Dor aqui, dor ali. As pessoas inventam picuinhas com coisas tão banais, tão fáceis de se passar por cima, esquecer e seguir a vida adiante. Talvez nem fosse a vida que devesse ser seguida, talvez apenas mais um dia. Mais uma hora, quem sabe? Eu sento no ônibus e ouço as pessoas reclamarem do celular que não funciona, das unhas que quebraram lavando a louça, do professor de cálculo que fez uma prova difícil, da conexão da internet que anda lenta em casa, entre outras coisas tão, mas tão banais que me dá pena de saber que ainda tem gente que gasta tempo pensando nisso. Esse tipo de coisa que vem me ausentando da cidade nos últimos tempos. E eu agradeço isso ao Seu Renato, um grande amigo que tem me mostrado de onde vem a calma, e que, como ele próprio diz: "nada nesta vida é azar, é só falta de oportunidade". Certo está ele. Ele sempre está certo. Eu ouço, ouço, passo horas escutando as sábias palavras de Seu Renato e me convenço que, como foi ontem, mais vale quatro horas ao lado dele do que quatro aulas na faculdade. E ontem valeram. E muito. Foram quatro aulas matadas, com muito prazer, e que renderam muitas histórias, muitos ensinamentos e, claro, muitas fotos.
Pois como eu ia contando, estávamos eu e Cláudio pensando em subir no telhado da Câmara do Comércio. Ele me ligou, tal e coisa, chegou na minha casa por volta das 13hs e, durante o banho, pensei em mudar a rota do passeio. Estava muito claro o dia, um sol muito forte, nada típico no nosso inverno, e imaginei que seria desperdício ficar caminhando pelo centro da cidade. Convidei o Cláudio para irmos até a Quitéria, e por que não? Aceitou na hora e fomos.
Pegamos o ônibus da Quinta, descemos ali perto da Estação por volta das 15hs e resolvemos ir a pé até a casa do Seu Renato (+ - 4km). Não era muito, mas o sol forte dificultava, a magnífica paisagem facilitava. Fomos indo, mata nativa adentro. Entre uma casinha de João-de-Barro e outra, muito papo furado. Primeira parada, uma ponte. Quem passa de carro por ali, não enxerga nada, talvez nem saiba o que há embaixo de onde se passa. Mas lá embaixo desta ponte havia uma cachoeira, de água transparente, onde o sol não bate nunca, e rochas que alguém deixou lá por algum motivo. Resolvemos descer a escalada, um pouco perigosa, porém chegando lá embaixo a visão era inacreditável. Os dois pensaram a mesma coisa: os riograndinos não sabem o que estão perdendo. Tchê, era bonito mesmo!



Continuando a caminhada, era recém 1/3 do trecho, mas essa paradinha me deu fôlego para mais três horas. Não necessitava tanto. Após exatamente 1h10 de caminhada, desde a Estação, chegamos na casa do Seu Renato. Lá estava Dona Zilma aparando a grama, que apontou para o galpão, onde estava Seu Renato arrumando uma tarrafa. Concentrado, muito concentrado, avisei que iríamos até a beira da lagoa enquanto ele terminava o serviço. Não queríamos atrapalhar. A visibilidade estava perfeita, dava pra ver os prédios da cidade, que deixamos para trás para esquecê-los um pouco. Porém, vê-los assim, de fora, de longe, dá uma sensação de vitória, de grandeza, uma grandeza muito mais gratificante do que se tivesse olhando por cima, do telhado do prédio da Câmara do Comércio.

Estas fotos foi o Cláudio que tirou:
não dá pra ver os prédios direito, culpa da câmera dele :P



Após alguns minutos apreciando esta paisagem, voltamos até o galpão. Seu Renato, sempre alegre, ensinou a remendar tarrafa. Com aquela calma de sempre: "pega a linha, passa por aqui, prende com o dedo e faz a volta, viu como é fácil?". Eu só balancei a cabeça afirmando, mas jura que eu conseguiria fazer aquilo de primeira. Como a tarrafa não era dele, e sim de um amigo, não me arrisquei a mexer. No final, ele jogou a tarrafa no chão para ver se estava funcionando direitinho, e orgulhoso ensinou que aquela tarrafa era para lugares mais fundos, tipo a Barra, pois ela forma uma bolsa e o camarão fica dentro dessa bolsa, "não tem como ele fugir".
Entramos em casa para o típico cafezinho da Dona Zilma, com as, já clássicas, bolachas de água & sal, e as docinhas, hmm tão boas! Eu posso até comprar as mesmas bolachas para comer em casa, mas lá na mesa da casa deles tem outro sabor, inexplicável, só indo lá pra sentir. Mostrei algumas fotos que tinha feito das outras vezes que estive lá, inclusive uma que ele aparece mostrando uma caixa cheia de casquinhas de siri. Ele olhou para esta foto e disse: "olha a cara do indivíduo!". Depois do bate-papo-cafezinho, fomos caminhar, conhecer a região, como ele diz. Entramos no mesmo caminho da semana passada, o tal corredor de produção, porém, ao invés de dobrarmos à direita para subir o 'Morro do Osso', fomos reto e entramos na Fazenda Vera Cruz. Ele queria mostrar a 'estrada antiga', que ia desde a BR-392, passando um pouco a Polícia Rodoviária, até a Torotama, um trajeto bem diferente do atual. O pampa se abriu, banhado pelo sol que estava a se pôr, e somente o barulho dos pássaros nos intervia. A Quitéria, que para mim já era linda, se transformou em um paraíso, sem exageros, sem puxação de saco, as fotos dizem tudo:



E nisto, entre uma vista e outra apareciam várias histórias das palavras de Seu Renato. Histórias que me faziam crer que tudo que eu havia aprendido em quatro anos de Bacharelado em Geografia, não servia para nada nesta vida, e o que vale é vivência, na sua forma mais pura. Eu fico desarmado conversando com Seu Renato. Eu simplesmente esqueço qualquer termo técnico de meteorologia, de geologia, de arqueologia, de agronomia e aprendo uma nova geografia. Uma geografia (com letra minúscula mesmo!) que eu desconheço, que talvez nem 1% dos meus colegas de faculdade conheçam e que é muito mais linda, muito mais útil, muito mais poética e muito mais pura que qualquer geografia que aprendemos em sala de aula ou em saídas de campo. O que vale é a vida. E somente ela em sua forma mais nativa.
Eu dispenso palavras para descrever as histórias das caturristas, da mulher de branco que aparece a meia-noite naquele mato, da estrada antiga que levava para a Torotama e todas as porteiras que existiam na beira dela, da casa da Dona Quitéria, do Mato do Índio curandeiro da região no início do século passado, dos seres estranhos que habitam a Quitéria, da direção do vento que se sabe pelo buraco da casinha do joão-de-barro (essa eu me arrepio só de escrever, pois percorremos pelo menos 1km em linha reta, e todas as casinhas estavam voltadas para o mesmo lado, e como diz Seu Renato: "é sinal de que o vento vem de lá na próxima estação"). Precisa de estação meteorológica e computadores caríssimos, quando se tem casinhas de joão-de-barro? Dispenso palavras para descrever o pôr-do-sol fincado no chão do pampa, que nada pobre é. Dispenso palavras para descrever a sensação de orgulho em enxergar todas as luzes da cidade à noite, do alto do Morro do Osso, e saber que estou bem longe daquele lixo. Dispenso palavras para descrever a melhor dor que existe: a de entrar no mato fechado, cheio de unhas-de-gato, à noite, desviando de tunas e com medo de que algum bicho me pegue, e acordar no outro dia faceiro de ver três arranhões sangrando na perna e um no pulso. Sobre as tunas, Seu Renato é bem claro: "cuidado aí, isso dá uma dor, que deusmelivre, de passar uma semana no hospital". Eu gostaria de dispensar palavras, mas não tenho fotos, de uma cena inacreditável: a lua, cheia, laranja, maior que o sol, brotando no horizonte, eu juro que estava maior, muito maior que o sol, e laranja, eu juro... é, não tem palavras, é inacreditável.



Fotos do post: Cláudio ou Titi

Mais fotos, toda semana, atualizado:
flickr.com/photos/tags/seurenato

09 agosto 2006

Sequenciais




Naquelas tardes em que as imagens eram capturadas e fragmentadas, decidi impô-las certo movimento, de forma que a passagem do tempo fosse, de alguma forma, materializada. A metáfora dos pássaros, que vem (e vão), é bem interessante neste contexto tanto cinza, tanta cor. Essas tardes leves, diríamos de purezas latentes, nos sorrisos das crianças que andavam nos balanços; dos senhores em seus barcos, pescando em pleno domingo, seja por seu ganha-pão, seu passa-tempo, ou suas vidas, mesmo; nos biguás que de forma solícita me disseram seus nomes.

Resolvi que estes seriam atores em algumas fotografias. E se estas são seleções, poderiam-se considerar "felizes" ou "preferidos".. Mas não, a imagem não está somente naquilo que mostra, mas também naquilo que se deixa esconder, que se encontra encoberto...

Algumas imagens estão somente em mim, e, ah, desculpem-me, mas eu não as posso dividir...






05 agosto 2006

horto florestal

P8030185

P8030177 P8030179 P8030182 P8030189

Fotos tiradas no Horto Florestal da FURG Campus Carreiros. O Horto é uma pequena área que se localiza ao lado do Galpão Crioulo e em frente ao Biotério, onde são produzidas as mudas que mais tarde irão integrar o paisagismo do Campus.
Numa das salas encontram-se fotos do processo de florestamento, de 1978 em diante.

De cima pra baixo: Preparação de sementes. Mato de Eucalíptos. Sombreiro ao lado da Estufa. Orquídea que estava dentro da Estufa. Cogumelos comestíveis.

02 agosto 2006

área ociosa

qualquer ser humano com bom olho (ou bom senso) percebe a beleza, a tranquilidade e a pureza que um pôr-do-sol na prainha do canalete transmite (e a menos de 1km do centro da cidade). a prefeitura de rio grande não percebe, e ainda cerca o local com arame farpado para ninguém entrar. às vezes me sinto num sistema ditatorial em rio grande, pois não temos acesso a uns dos lugares mais bonitos do estado, e ainda, nosso cotidiano é regulado por uma empresa de ônibus e pela ignorância dos governantes principais. ou seja, poucos tem o direito de ir e vir aonde querem e a hora que querem nesta cidade. mas eu não desisto, pego meus amigos pela mão, respiro fundo e passo por debaixo do arame farpado.

31 julho 2006

matriz hora certa

Igreja Matriz Hora Certa

Por que a realidade é apenas uma concepção.

24 julho 2006

o louco do chapéu azul


foto divulgação - fonte desconhecida

Todos, ou quase todos conhecem a composição "Joquim", do Vitor Ramil. Segundo interpretações feitas a partir desta composição, o pelotense Joaquim Fonseca era considerado louco por querer fazer valer suas idéias muito à frente de sua época. Joaquim viveu entre os anos de 1910-1968, quando o avanço tecnológico recém se firmava no Sudeste do Brasil e, segundo a composição, suas idéias talvez ainda hoje, nos anos 2000, ainda sejam consideradas de vanguarda. Entre suas idéias, as que mais se destacaram foram a construção de um ônibus, quando no país só havia bondes, e a que mais repercutiu, e que repercute até hoje, a fabricação de aviões. Joaquim buscou os órgãos governamentais competentes para formar a primeira fábrica de aviões totalmente brasileira, porém, seu projeto foi rejeitado em uma época onde o ufanismo estava em alta. Indagações como esta deixam buracos na história de Joaquim e na da própria Pelotas, visto que hoje em dia, pessoas que acreditavam em suas idéias pensam que, se a fábrica de aviões fosse instalada, a cidade tomaria um rumo econômico e, conseqüentemente histórico, bastante diferente do que é hoje em dia. Prova disto está na discussão recente sobre nomear o aeroporto de Pelotas como “Joaquim Fonseca”, como forma de homenagear o cidadão, reconhecimento este que ele nunca recebeu em vida. Cabe a nós buscar a História de Joaquim Fonseca, e colocá-lo no merecido altar da História do Rio Grande do Sul. Os meios estão em nossas mãos e , em pouco tempo, nossos esforços estarão na mídia (se tudo der certo).


atual instalação da
Fábrica de Silenciadores Guarany,
fundada por Joaquim em 1945

18 julho 2006

experimentos

Tudo começou com uma indicação ao blog e a cada momento é um "tudo começou" de novo. Viva a vida! viva a experiência! viva a ciência e o amor. Eu sou um ser que ama e quando não ama tem vontade de amar. Por que trancar-se em um vazio sem fim se o amor te dá a oportunidade pra sair de ti mesmo e descobrir, conhecer, explorar um mundo sem fim que é o mundo dos outros, de vocês, de cada um? "que viva la ciencia, que viva la poesia, que viva siento mi lengua quando tu lengua esta sobre la lengua mia." Prometo ser um bom rapaz e postar coisas úteis e agradáveis aos olhos e à alma.

17 julho 2006

domingo no interior

Domingos sempre costumaram ser tediosos quando vistos pelos meus olhos. Justo este dia que inicia a semana e que famílias costumam passear no parque, andar no calçadão das praias, aproveitar o dia de sol numa das cidades mais acolhedoras pra se viver.
A maioria dos meus domingos eu não aproveitei o sol e nem passeei nos parquinhos da vida. Coisas assim, dizem meus pais, fizemos exaustivamente “quando você era pequena. Íamos todos os fins de semana”. Pode até ser, mas pra ter vivido eu deveria me lembrar, o que não acontece.
Enfim, como eu já escrevi por aqui, tenho visto coisas com olhos de primeira vez, o que me deixa cada vez mais curiosa e empolgada por fatos inéditos.
O último primeiro dia desta semana eu pude viver mais uma dessas experiências gostosas de um domingo. Experiência inusitada a começar pela hora que acordei: 5h30m da manhã. Creio nunca ter despertado tão cedo na minha vida em pleno domingo. Mas o motivo era nobre: um passeio bucólico por lugares desconhecidos do interior do Rio, mais especificamente o município de Guapemirim.
Nossa jornada começou cedo e às 7h10m da manhã eu já estava na estação de trem rumo ao centro do Rio. E já comecei me surpreendendo: como pode um trem já estar cheio em pleno domingo às sete da manhã???? Ou as pessoas acordam muito cedo ou eu durmo demais. Não é possível !
Chegando na Central do Brasil, nossa caravana de seres da cidade partiu em direção ao ramal de trens que nos levava ao município de Saracuruna. O trem partia às 8h30m, e seguimos numa viagem que durou cerca de uma hora.





Dentro do trem pudemos notar a estranheza que causamos. Crianças e adultos se entreolhavam e deveriam se perguntar: “Quem são essas pessoas vestidas desse jeito esquisito?” ; “O que é esse cabelo black power dessa menina.
Mais do que eles, eu me fazia inúmeras perguntas sobre lugares do meu Estado, que tão próximos, eram ao mesmo tempo tão distantes da minha realidade. Eu olhava pela janela, e observava as crianças,e o movimento dos vendedores ambulantes, e fotografava, etc, etc, etc.
Quando chegamos a Saracuruna, tomamos um outro trem, bem menor que o anterior, que nos levaria à Piabetá. Nesse trem mais estranheza no olhar das pessoas e curiosidade nos nossos. Uma senhora nos abordou e perguntou se éramos estudantes da PUC. Agora me digam por que diabos seríamos especificamente estudantes da PUC???
Parecíamos atração turística a bordo de um trem onde as portas mal fechavam e vidros nas janelas não existiam. E aquele era o único transporte que levava àquelas pessoas às suas casas.
Chegando à Piabetá, mais uma Kombi e uma van nos levaram finalmente à Guapemirim. Andamos muito, e pela estrada vacas, casinhas brancas no meio do nada, crianças, velhinhos, cachorros simpáticos, muitas pessoas de bicicleta e fotos, fotos e mais fotos.



Depois da terceira ponte e bastante suor achamos a cachoeira. Mais pausa pra fotos e depois uma trilha por um bambuzal e por pedras que nos levava até a cachoeira. Nos equilibramos em pedras dentro d´água, levamos cortes de bambu, sujamos nossos tênis americanizados e sentimos os pés na terra.



Depois de instalados comemos e fomos de encontro à cachoeira. Como é bom estar assim em contato com uma manifestação de Deus que está nos nossos olhos todos os dias e a gente não vê. Como crianças felizes brincávamos na água e fomos, pelas pedras dentro d´água, atrás de coisas pelo mato desconhecido.
Como puderam me privar de domingos assim?



A volta pra casa foi um pouco mais rápida a bordo de um ônibus que vinha direto pro Rio. Preferimos voltar de trem, mas o último havia saído às 16hs.
O local onde esperamos o ônibus que nos traria pro Rio é a praça de acontecimentos da cidade. Um letreiro luminoso divulgava a atração do dia: um telão na praça principal que transmitia o jogo Vasco e Flamengo.
No caminho a gente sempre reflete sobre o dia, sobre as coisas que nos acontecem e em como o contato com qualquer tipo de pessoa, de cultura diferente da sua, te faz acabar absorvendo um pouco do outro, te faz questionar alguns pontos seus e da outra pessoa. Você se pergunta como pode tantas pessoas viverem num lugar tão isolado onde só existem dois trens por dia???
Eu conversei com a cobradora da van e ela dizia que era nascida e criada em Guapemirim e que gostava dali. Eu a olhava com entusiasmo e pontos de interrogação nos olhos.
Por quê? Como eu ainda podia me questionar?
Eu tenho poluição, problemas e Rio de Janeiro pra viver. Ela tem cachoeira, natureza e Guapemirim. Cada um com seus mundos.