17 julho 2006

domingo no interior

Domingos sempre costumaram ser tediosos quando vistos pelos meus olhos. Justo este dia que inicia a semana e que famílias costumam passear no parque, andar no calçadão das praias, aproveitar o dia de sol numa das cidades mais acolhedoras pra se viver.
A maioria dos meus domingos eu não aproveitei o sol e nem passeei nos parquinhos da vida. Coisas assim, dizem meus pais, fizemos exaustivamente “quando você era pequena. Íamos todos os fins de semana”. Pode até ser, mas pra ter vivido eu deveria me lembrar, o que não acontece.
Enfim, como eu já escrevi por aqui, tenho visto coisas com olhos de primeira vez, o que me deixa cada vez mais curiosa e empolgada por fatos inéditos.
O último primeiro dia desta semana eu pude viver mais uma dessas experiências gostosas de um domingo. Experiência inusitada a começar pela hora que acordei: 5h30m da manhã. Creio nunca ter despertado tão cedo na minha vida em pleno domingo. Mas o motivo era nobre: um passeio bucólico por lugares desconhecidos do interior do Rio, mais especificamente o município de Guapemirim.
Nossa jornada começou cedo e às 7h10m da manhã eu já estava na estação de trem rumo ao centro do Rio. E já comecei me surpreendendo: como pode um trem já estar cheio em pleno domingo às sete da manhã???? Ou as pessoas acordam muito cedo ou eu durmo demais. Não é possível !
Chegando na Central do Brasil, nossa caravana de seres da cidade partiu em direção ao ramal de trens que nos levava ao município de Saracuruna. O trem partia às 8h30m, e seguimos numa viagem que durou cerca de uma hora.





Dentro do trem pudemos notar a estranheza que causamos. Crianças e adultos se entreolhavam e deveriam se perguntar: “Quem são essas pessoas vestidas desse jeito esquisito?” ; “O que é esse cabelo black power dessa menina.
Mais do que eles, eu me fazia inúmeras perguntas sobre lugares do meu Estado, que tão próximos, eram ao mesmo tempo tão distantes da minha realidade. Eu olhava pela janela, e observava as crianças,e o movimento dos vendedores ambulantes, e fotografava, etc, etc, etc.
Quando chegamos a Saracuruna, tomamos um outro trem, bem menor que o anterior, que nos levaria à Piabetá. Nesse trem mais estranheza no olhar das pessoas e curiosidade nos nossos. Uma senhora nos abordou e perguntou se éramos estudantes da PUC. Agora me digam por que diabos seríamos especificamente estudantes da PUC???
Parecíamos atração turística a bordo de um trem onde as portas mal fechavam e vidros nas janelas não existiam. E aquele era o único transporte que levava àquelas pessoas às suas casas.
Chegando à Piabetá, mais uma Kombi e uma van nos levaram finalmente à Guapemirim. Andamos muito, e pela estrada vacas, casinhas brancas no meio do nada, crianças, velhinhos, cachorros simpáticos, muitas pessoas de bicicleta e fotos, fotos e mais fotos.



Depois da terceira ponte e bastante suor achamos a cachoeira. Mais pausa pra fotos e depois uma trilha por um bambuzal e por pedras que nos levava até a cachoeira. Nos equilibramos em pedras dentro d´água, levamos cortes de bambu, sujamos nossos tênis americanizados e sentimos os pés na terra.



Depois de instalados comemos e fomos de encontro à cachoeira. Como é bom estar assim em contato com uma manifestação de Deus que está nos nossos olhos todos os dias e a gente não vê. Como crianças felizes brincávamos na água e fomos, pelas pedras dentro d´água, atrás de coisas pelo mato desconhecido.
Como puderam me privar de domingos assim?



A volta pra casa foi um pouco mais rápida a bordo de um ônibus que vinha direto pro Rio. Preferimos voltar de trem, mas o último havia saído às 16hs.
O local onde esperamos o ônibus que nos traria pro Rio é a praça de acontecimentos da cidade. Um letreiro luminoso divulgava a atração do dia: um telão na praça principal que transmitia o jogo Vasco e Flamengo.
No caminho a gente sempre reflete sobre o dia, sobre as coisas que nos acontecem e em como o contato com qualquer tipo de pessoa, de cultura diferente da sua, te faz acabar absorvendo um pouco do outro, te faz questionar alguns pontos seus e da outra pessoa. Você se pergunta como pode tantas pessoas viverem num lugar tão isolado onde só existem dois trens por dia???
Eu conversei com a cobradora da van e ela dizia que era nascida e criada em Guapemirim e que gostava dali. Eu a olhava com entusiasmo e pontos de interrogação nos olhos.
Por quê? Como eu ainda podia me questionar?
Eu tenho poluição, problemas e Rio de Janeiro pra viver. Ela tem cachoeira, natureza e Guapemirim. Cada um com seus mundos.

4 Comments:

At 11:56 PM, Anonymous Anônimo said...

eu me apaixono pelo rio por sua causa, e quero que saiba bem disso.

 
At 11:42 PM, Anonymous Anônimo said...

que coisa mais foufa!

 
At 4:02 PM, Anonymous Anônimo said...

"naquele tempo onde todos éramos felizes..."

ainda bem q aquele tempo é agora, né?
:}

 
At 10:02 PM, Anonymous Anônimo said...

Eu vi gnomos!!! :D

 

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