14 fevereiro 2008

Crônicas de uma primavera invernal



De que adianta vender a beleza plástica das cidades se a beleza suja, a beleza do que as cidades têm de mais urbana, beleza que se desdobra por suas curvas, sempre acaba se mostrando mais sedutora?

Me pergunto que tal nostalgia inquietante é essa que me toma nesta tarde de primavera regada a frio e chuva...
Mas parece que caminhar despretensiosamente por tuas avenidas maternas, de vez em quando, faz bem.

Atravessar seus corações que não se cruzam com a calma de uma criança não tem preço.
Suas veias pulsam apressadas, tentando fazê-la fugir e seguir o caminho de um sol que hoje não se abriu. Mas eu me nego a obedecê-la e insisto e a seduzo e a convenço de que mereço vê-la nua.

Sinto-me quase que flutuando sobre ti, como dentro de um filme, de um sonho, e assim te uso para abusar de casa rosto teu, de cada pulsação, e exploro tudo que tu, ó cidade, tem por trás de teus véus.

Tu também me amedronta, mas que seria de nosso amor se não mantivesse teus segredos por trás desta maquiagem borrada?

Quero te ver assim, suja, urbana e, sob tuas estrelas, desvendar tuas vielas, ruelas, teus morros, possuir a ti que sempre será minha casa.