crônicas de uma certa rio grande
22 agosto 2006
21 agosto 2006
inimigo invisível
O inimigo invisível chegou hoje em nosso território com seu exército bem numeroso, bem armado. O inimigo invisível congela, paralisa, faz tremer, enrigece, racha o lábio, seca a mão. Essa noite o frio em meu peito é quase nada em comparação com a dor de quem improvisa um lar efêmero, de quem dorme no chão e tem seus doados pedaços de pão espalhados na curva do meio fio, na esquina fria. Venta gelado e calado o inimigo do homem de coração quente. Mostra, covarde, o corpo e o rosto de teus soldados! Tu não tens corpo nem rosto. Tu não tens ponto fraco. Tu não existes! Por que insistes em nos matar? É isso o que queres? Se não é, o que queres? Se não é isso, queres outra coisa e matas sem querer. Faça fogo quem o teme. Una-se a outros que o temem. Juntos, escondam-se ao redor de uma fogueira. Bebam cachaça e entorpeçam-se pois ele não existe: nem o frio de fora, nem o frio daqui.12 agosto 2006
quitéria, de novo
Não posso deixar de registrar o dia de ontem (quinta-feira, 10 de agosto de 2006)Pois como eu ia contando, estávamos eu e Cláudio pensando em subir no telhado da Câmara do Comércio. Ele me ligou, tal e coisa, chegou na minha casa por volta das 13hs e, durante o banho, pensei em mudar a rota do passeio. Estava muito claro o dia, um sol muito forte, nada típico no nosso inverno, e imaginei que seria desperdício ficar caminhando pelo centro da cidade. Convidei o Cláudio para irmos até a Quitéria, e por que não? Aceitou na hora e fomos.
Pegamos o ônibus da Quinta, descemos ali perto da Estação por volta das 15hs e resolvemos ir a pé até a casa do Seu Renato (+ - 4km). Não era muito, mas o sol forte dificultava, a magnífica paisagem facilitava. Fomos indo, mata nativa adentro. Entre uma casinha de João-de-Barro e outra, muito papo furado. Primeira parada, uma ponte. Quem passa de carro por ali, não enxerga nada, talvez nem saiba o que há embaixo de onde se passa. Mas lá embaixo desta ponte havia uma cachoeira, de água transparente, onde o sol não bate nunca, e rochas que alguém deixou lá por algum motivo. Resolvemos descer a escalada, um pouco perigosa, porém chegando lá embaixo a visão era inacreditável. Os dois pensaram a mesma coisa: os riograndinos não sabem o que estão perdendo. Tchê, era bonito mesmo!
Estas fotos foi o Cláudio que tirou:
não dá pra ver os prédios direito, culpa da câmera dele :P
Entramos em casa para o típico cafezinho da Dona Zilma, com as, já clássicas, bolachas de água & sal, e as docinhas, hmm tão boas! Eu posso até comprar as mesmas bolachas para comer em casa, mas lá na mesa da casa deles tem outro sabor, inexplicável, só indo lá pra sentir. Mostrei algumas fotos que tinha feito das outras vezes que estive lá, inclusive uma que ele aparece mostrando uma caixa cheia de casquinhas de siri. Ele olhou para esta foto e disse: "olha a cara do indivíduo!". Depois do bate-papo-cafezinho, fomos caminhar, conhecer a região, como ele diz. Entramos no mesmo caminho da semana passada, o tal corredor de produção, porém, ao invés de dobrarmos à direita para subir o 'Morro do Osso', fomos reto e entramos na Fazenda Vera Cruz. Ele queria mostrar a 'estrada antiga', que ia desde a BR-392, passando um pouco a Polícia Rodoviária, até a Torotama, um trajeto bem diferente do atual. O pampa se abriu, banhado pelo sol que estava a se pôr, e somente o barulho dos pássaros nos intervia. A Quitéria, que para mim já era linda, se transformou em um paraíso, sem exageros, sem puxação de saco, as fotos dizem tudo:
Eu dispenso palavras para descrever as histórias das caturristas, da mulher de branco que aparece a meia-noite naquele mato, da estrada antiga que levava para a Torotama e todas as porteiras que existiam na beira dela, da casa da Dona Quitéria, do Mato do Índio curandeiro da região no início do século passado, dos seres estranhos que habitam a Quitéria, da direção do vento que se sabe pelo buraco da casinha do joão-de-barro (essa eu me arrepio só de escrever, pois percorremos pelo menos 1km em linha reta, e todas as casinhas estavam voltadas para o mesmo lado, e como diz Seu Renato: "é sinal de que o vento vem de lá na próxima estação"). Precisa de estação meteorológica e computadores caríssimos, quando se tem casinhas de joão-de-barro? Dispenso palavras para descrever o pôr-do-sol fincado no chão do pampa, que nada pobre é. Dispenso palavras para descrever a sensação de orgulho em enxergar todas as luzes da cidade à noite, do alto do Morro do Osso, e saber que estou bem longe daquele lixo. Dispenso palavras para descrever a melhor dor que existe: a de entrar no mato fechado, cheio de unhas-de-gato, à noite, desviando de tunas e com medo de que algum bicho me pegue, e acordar no outro dia faceiro de ver três arranhões sangrando na perna e um no pulso. Sobre as tunas, Seu Renato é bem claro: "cuidado aí, isso dá uma dor, que deusmelivre, de passar uma semana no hospital". Eu gostaria de dispensar palavras, mas não tenho fotos, de uma cena inacreditável: a lua, cheia, laranja, maior que o sol, brotando no horizonte, eu juro que estava maior, muito maior que o sol, e laranja, eu juro... é, não tem palavras, é inacreditável.
Fotos do post: Cláudio ou Titi
Mais fotos, toda semana, atualizado:
flickr.com/photos/tags/seurenato
09 agosto 2006
Sequenciais
Naquelas tardes em que as imagens eram capturadas e fragmentadas, decidi impô-las certo movimento, de forma que a passagem do tempo fosse, de alguma forma, materializada. A metáfora dos pássaros, que vem (e vão), é bem interessante neste contexto tanto cinza, tanta cor. Essas tardes leves, diríamos de purezas latentes, nos sorrisos das crianças que andavam nos balanços; dos senhores em seus barcos, pescando em pleno domingo, seja por seu ganha-pão, seu passa-tempo, ou suas vidas, mesmo; nos biguás que de forma solícita me disseram seus nomes.
Resolvi que estes seriam atores em algumas fotografias. E se estas são seleções, poderiam-se considerar "felizes" ou "preferidos".. Mas não, a imagem não está somente naquilo que mostra, mas também naquilo que se deixa esconder, que se encontra encoberto...
Algumas imagens estão somente em mim, e, ah, desculpem-me, mas eu não as posso dividir...
05 agosto 2006
horto florestal
Numa das salas encontram-se fotos do processo de florestamento, de 1978 em diante.
De cima pra baixo: Preparação de sementes. Mato de Eucalíptos. Sombreiro ao lado da Estufa. Orquídea que estava dentro da Estufa. Cogumelos comestíveis.